Ser inovador parece uma obrigação hoje no mundo corporativo. Mas… você é um cliente inovador? Sua empresa quer ser realmente inovadora?
Você é do tipo de fica na fila para comprar um iPhone no dia do lançamento? Ou é daqueles que sentem falta da locadora de DVDs? Você arrisca instalar a versão beta do Windows ou vai esperar até a Microsoft obrigar você a trocar?
Essas características de consumo são muito bem definidas pela curva do Ciclo de Vida de Adoção de Tecnologia, criada na década de 1950 por Bohlen, Beal e George (artigo original). Ela divide consumidores em quatro grupos, mas pode ser tranquilamente usada para empresas:
- Inovadores (innovators): são pioneiros na aquisição e na implantação de novas tecnologias. Apostam alto na inovação de produtos e serviços e estão dispostos a arcar com os altos custos e riscos. Quando dá certo, cria tendências. Quando não, joga-se perde-se muito dinheiro e esforço. A Apple criou, em 1993, o Newton, uma mistura de PDA com tablet. Não deu certo. O mercado não comprou a ideia. Entretanto, três anos depois, a Palm lançou seu primeiro modelo e se tornou marca sinônimo de PDAs. Em compensação, a própria Apple revolucionou o mercado de música digital com o iPod, misturando tecnologia e design e conquistando o mundo (e vários seguidores).
- Seguidores rápidos (early adopters): estão sempre de olhos nos inovadores e têm uma grande capacidade de adaptação para seguir os líderes rapidamente. Quem se lembra da música Terceiro, do Ultraje a Rigor? Ela conta a história de um corredor de carro que toma cuidado “pra não ser o primeiro”, “mas gosta da cor” da medalha. (clip aqui!) É como se comporta esse grupo. Eles preferem ver como se comporta o mercado para os inovadores antes de se arriscar. Mas são rápidos nas decisões porque querem manter o papel de “líderes” ou “inovadores”. A Samsung aprendeu bem essa lição. O primeiro Galaxy foi lançado em 2009, dois anos após o iPhone. A partir daí, a diferença de tempo dos lançamentos entre as concorrentes foi diminuindo. Ela foi saindo da posição de seguidora rápida para assumir a liderança em 2012. Fazem parte deste grupo “lideranças formais”, ou pessoas que influenciam os demais na adoção de determinada tecnologia.
- Maioria Precoce (early majority): um dos problemas da adoção de certas tecnologias é que, enquanto ela não é usada pela maioria, pouco se pode fazer. Pense no fax. Para ser interessante, preciso que outras pessoas também o tenham. Segundo o artigo original, esse grupo funciona como uma “liderança informal”: sabe-se que, se eles adotaram, é porque é bom. Um caso interessante é o da parceria entre o Hospital Sírio Libanês (em São Paulo) e a Tasy. O Sírio só começou a implantação de um Sistema de Informação Hospitalar anos depois de um de seus grandes concorrentes, o Hospital Albert Einstein. Entretanto, quando o projeto foi concluído, a Tasy, sua parceira, passou de uma empresa pouco conhecida para umas das principais referências no mercado. As características da tecnologia, neste grupo, é preço mais baixo (mais baixo, não baixo!) e estabilidade.
- Maioria Atrasada (majority): este grupo é conservador e avesso a riscos. Só adota uma tecnologia ou ferramenta quando o “mercado” já a aprovou. Muitas vezes, estão cedendo a alguma pressão de clientes, funcionários ou governo.
- Não seguidores (non adopters): o Professor Jaci Corrêa Leite, da FGV EAESP, prefere chamá-los de “seguidores muito lentos”. A explicação é simples: uma hora vão adotar, nem que seja quando não houver outra opção. Quantas microempresas só instalaram internet quando se tornou obrigatória a emissão de nota fiscal eletrônica?
Uma autoavaliação do seu perfil pessoal nesta curva explica muito de seu comportamento. Para as organizações, também. Notem que a decisão de estar em um ou outro grupo não é por acaso. As empresas devem saber o que querem, dentro de suas estratégias de negócio, e fazer com que isso se reflita na adoção da tecnologia.